terça-feira

Mundo em Revista adverte: censurar pode fazer mal à saúde

Muitos daqueles que hoje defendem um maior controle da mídia, principalmente da programação dos canais abertos de televisão, ignoram os malefícios da censura. É certo que, na busca desenfreada pelo aumento da audiência, grande parte das emissoras de TV usa e abusa de sexo e violência na programação. Porém, é preferível engolir ocasionais excessos a ter de provar, mesmo em pequena dose, o remédio indigesto da censura.

Dar esse poder ao Estado equivale a contratar Herodes para cuidar das crianças. Sob o capuz de defensor da moral e dos bons costumes, o censor torna-se uma besta tragicômica, como na época da ditadura militar. Entre diversos casos de artistas cujos trabalhos foram censurados, o mais pitoresco e inverossímil (provavelmente apenas uma boa piada) é o que teria envolvido Chico Anysio.

Diz a lenda que, ao ver cortado um pedaço de um dos mais famosos poemas de Castro Alves, O Navio Negreiro, que havia incluído em uma peça, o grande humorista, criador de tipos inesquecíveis, quis saber o motivo da amputação. No célebre trecho: Auriverde pendão da minha terra/ Que a brisa do Brasil beija e balança/ Estandarte que a luz do sol encerra/ E as promessas divinas da esperança... , o segundo verso inteiro tinha sofrido a ação da tesoura. Mais absurdo que o crime, seria a explicação do censor: “uma coisa que beija e balança não pode ser um troço decente.”

Chico Buarque, cujas composições eram muito visadas pelos censores, teve de adotar o heterônimo de Julinho da Adelaide para livrar Acorda Amor, Jorge Maravilha e Milagre Brasileiro, do famigerado Departamento de Censura Federal. Em 1974, Julinho chegou inclusive a ser entrevistado pelo jornalista Mário Prata.

Publicada no jornal Última Hora, sob o título - O Samba Duplex e Pragmático de Julinho da Adelaide - a hilária entrevista pode ser lida, na íntegra, na seção Sanatório Geral do site de Chico Buarque. Ali são revelados detalhes importantes sobre a vida de “Julio Cesar Botelho de Oliveira”, como o fato de possuir duas feias cicatrizes no rosto, razão pela qual não permitia ser fotografado, a não ser de costas. Um drible de mestre na censura.

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