segunda-feira

A pujante voz da África



Infelizmente, o continente africano é mais lembrado como fonte de desgraça do que de exuberância. É comum falar da África como se fosse um bloco homogêneo de tristezas, um amontoado de problemas, quando na verdade é um continente tão diverso quanto as civilizações que povoam a América, da Patagônia ao Canadá.

Além de AIDS, pobreza e guerras civis, a África possui uma rica herança cultural, não apenas no Egito ou no Marrocos, mas também em Gâmbia e no Senegal, onde a memória histórica foi transmitida pelo canto dos Griots através de várias gerações.

Os Griots eram (e ainda são) poetas cantadores, autênticas escolas ambulantes, ensinando lições de vida, narrando lendas e façanhas. Sua musicalidade inspirou o Blues, o Rap e também o Mbalax, gênero baseado em ritmos e sonoridades tradicionais daquela região da África Ocidental, que incorporou variadas influências, do jazz aos arranjos afro-cubanos e cantos religiosos islâmicos.

O resultado desta alquimia, um som visceral absolutamente contagiante, alcança dimensões celestiais na voz de Youssou N’Dour. Com uma potência capaz de provocar a comoção mais profunda, as miraculosas cordas vocais do maior ídolo do Senegal, formam um instrumento de timbre e extensão impressionantes, que parece afinado por algum diapasão divino.

Com essa voz pujante, cantando em wolof, francês e inglês, quase sempre acompanhado por uma banda repleta de músicos incrívelmente talentosos, a formidável Super Etoile de Dakar, Youssou se distingue também como compositor extraordinário, autor de um amplo e magnífico repertório e principal representante do Mbalax (“UMM BAH-LAAKH”), que ajudou a criar e desenvolver.

Não bastasse compor e cantar como poucos, Youssou N’Dour tem ainda um notável engajamento político, dedicando-se a inúmeros projetos sociais, não apenas em relação às penúrias africanas, mas em prol da anistia internacional, dos direitos humanos e outras causas essenciais. Enfim, Youssou é um dos seres humanos mais completos do planeta, um Griot imprescindível da África e quase uma divindade no Senegal.

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