sábado

Tomando todas as providências

Em seu pronunciamento de ontem, três dias após o acidente do vôo 3054, o Presidente da República não trouxe novidade alguma. Além de pedir “serenidade a todos os brasileiros”, prometeu modernizar a aviação, que, finalmente teve de admitir, “passa por dificuldades”, mas garantiu que “o nível de segurança do nosso sistema aéreo é compatível com todos os padrões internacionais.”

“Seu maior problema hoje é a excessiva concentração de vôos em Congonhas. E é isso que precisamos resolver imediatamente”, concluiu Lula, anunciando cinco “decisões tomadas hoje pelo Conselho de Aviação Civil”, entre elas, a “definição, em 90 dias, do local da construção de um novo aeroporto na região de São Paulo”. Assista o pronunciamento ou leia na íntegra.

Dez meses após o início da crise, digo, “dificuldade” aérea que atinge o Brasil, o máximo que o governo conseguiu propor foi desafogar o trânsito no porta-aviões, digo, no Aeroporto de Congonhas. Aquele, ancorado em meio a um mar de prédios, cuja pista principal havia sido liberada sem receber o chamado grooving (ranhuras no asfalto que ajudam a drenagem em caso de chuva).

Por receio de novos acidentes, boa parte da população que precisa viajar, a trabalho, a negócios ou a passeio, estaria trocando as aerovias pelas rodovias. Nas estradas do Brasil, porém, mais de duzentas pessoas perdem a vida a cada mil quilômetros pavimentados (índice setenta vezes maior que o do Canadá), num total de cerca de 36 mil pessoas por ano.


É como se, dia sim, dia não, um Airbus lotado, com quase duzentos passageiros e tripulantes a bordo, explodisse silenciosamente. Nem o próprio governo sabe o número exato de mortos. Enquanto isso, conforme declarou o presidente em seu pronunciamento, as autoridades continuam “tomando todas as providências”. Ou seja ...

Nenhum comentário: