sexta-feira

Lula vai se pronunciar

Passados três dias da maior tragédia aérea do Brasil (e da América Latina) e após suscitar uma enxurrada de críticas à sua incrível mudez diante de tão doloroso momento, o Presidente da República decidiu dirigir-se à nação em cadeia de TV na noite de hoje.

Esperemos que, no pacote de medidas que provavelmente será anunciado, esteja incluído o fechamento (ainda que temporário) do “Aeroporto” de Congonhas, onde ocorreu o (segundo) grande acidente fatal com avião da TAM.

Embora Congonhas seja considerado o maior porta-aviões do mundo, já que sua pista principal é quase seis vezes mais extensa que o comprimento do USS Nimitz, a inexistência de áreas de escape transforma o pouso numa espécie de esporte radical.

Se o Presidente do Brasil, no entanto, fizer de seu pronunciamento uma mera plataforma política, buscando 'passar à ofensiva' na crise aérea, como previu o diário argentino La Nación, dando mais relevância ao embate com a oposição “conservadora e golpista” que aos efetivos cuidados com a segurança, sua imagem poderá sofrer um desgaste irreparável.

Não com a classe média, que o tem vaiado efusivamente há algum tempo, vítima de um sistema eleitoral viciado e imbatível que, por um lado, derrama sobre a elite uma cornucópia de benesses financeiras, enquanto cobre as classes menos favorecidas de esmolas governamentais. O desgaste será com a História. Aquela velha senhora intransigente que vive a retocar as mais irretocáveis biografias.

O "Contragolpe de Lula para frear a crise", como diz a manchete do jornal argentino, não deve mirar a oposição (que, convenhamos, apenas cumpre seu papel de apontar o contraditório) nem a sucessão presidencial, mas o vulto de estadista. É nos momentos de crise que este vulto aparece, sobressai ao fogo e à fumaça da política rasteira e conduz a barca dos homens a um porto seguro.

Vamos torcer para que o presidente da nação seja desta estirpe. Que passe a pilotar o país com segurança, olhando para a História e não para o futuro imediato e a glória passageira das urnas. O Brasil não merece ser guiado por políticos de baixa estatura, comprometidos com interesses inconfessáveis, atarefados em manobrar o Congresso ou apanhados em flagrante, com gestos obscenos a comemorar a falha do Airbus. Está na hora de Lula mostrar ao que veio.

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